Será que é só comigo?

Minha virada de ano foi muito estranha, muito estranha mesmo, estou até agora abobada.
Fui passar a virada de ano na casa de praia da supervisora da linha que eu trabalho lá na fábrica. Uma senhora que está lá há uns vinte anos. Rola até um lance de respeito da peãozada por ela e tal, afinal ela “tá com vinte anos de casa” se repete de boca em boca.
Quando entrei lá me falaram para tomar cuidado com ela, no final descobri que era só uma mulher que se fodeu muito na vida, engoliu um caminhão de sapos para não perder o emprego e foi ficando. Do tempo que entrou acho que só restou o dono.
Bem, o fato é que ela tipo me adotou vamos dizer. Sabe um pouco da minha história e deve ter algum lance de simpatia também, porque eu também gosto dela. Daí que fui passar o final de ano na casa dela. Era para eu ir em uma cidadezinha perto de Maringá e ver alguns parentes mas não rolou, então veio o convite. O meu acho-que-ainda-é-namorado foi viajar para ficar com os tios dele. (não liga faz uma semana)
Bem, mas foi muito legal na casa da Jô, família, cachorro, gato, galinha, os dois filhos, o marido dela e a filha.
Tava tudo bem, tudo ótimo, eu desbaratinando, lendo um livro, uns goles de caipira ao meio dia, conversando bastante com a filha dela que é mais nova que eu, mas é muito gente boa e muito inteligente também.
Eu e a moça dormimos no mesmo quarto, o que é normal creio eu em famílias normais.
Juntamos as camas para escutar as mesmas músicas no MP alguma coisa dela e conversarmos bastante, ficávamos até duas ou três da manhã jogando conversa afora.
Teve um dia que ficamos todas queimadas de uma caminhada, estava um bafo horrível, a noite estávamos toda ardidas parecendo dois potes de catchup.
Quando deitamos, ela me pediu se eu não poderia passar um óleo da Natura lá que ela tinha, nas costas dela, passei numa boa é claro. Kátia estava com um camisetão comprido e só levantou e eu passei. Então ela perguntou. “quer que eu passe em você também?”. Confesso que nem de longe passou alguma coisa estranha pela minha cabeça, lembro que o óleo era de pitanga e o cheiro uma delícia, e é claro que disse que sim.
Foi aí que começou tudo.
Quando ela perguntou, eu pensei que ela iria se virar de frente e eu viraria de costas, ela passaria em mim, como eu passei nas costas dela. Só que ela se virou e ficamos as duas de frente, porque ela pediu para eu passar mais um pouco nela.
Não estava escuro, só uma luzinha fraquinha de um abajur que me arranjaram para ler antes de dormir. Mas mesmo assim não ousei olhar para ela quando me dei conta que estávamos com as camisetas levantadas e passando óleo nas costas uma da outra, quem já passou esses óleos da Natura sabe que o negócio fica um tempão escorregando na mão da gente. Naquele passar senti que ela começou a passar com um pouquinho mais de força e para minha surpresa, eu também comecei a apertar as mãos nas costas dela. Numa dessas foi que encostamos os pés e daí a coisa ficou realmente estranha.
Sempre fui meio babaca e preconceituosa quanto a essas coisas, não entendi minha reação, ou minha permissão ou sei lá o que foi aquilo.
Depois de tocarmos os pés, fomos aproximando nossas pernas bem devagar e ficamos com as pernas entrelaçadas uma na outra. Não sei descrever, mas a minha coxa ficou no meio das pernas dela e a coxa dela no meio da minha. Tanto a minha quanto a dela bem apertadas vamos dizer assim.
Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito, apertando-nos, não aconteceu mais nada além disso, não nos beijamos, não tiramos as calcinhas, não passamos as mãos em nenhum outro lugar que não fossem as costas uma da outra, nada mesmo, no máximo nossos seios estavam encostados. Foi a coisa mais louca que me aconteceu eu acho. Fiquei muito excitada, mas era diferente, não cheguei a gozar, é que não sei explicar, era tão assustador que parecia que meu coração ia sair batendo na garganta. Não vou ser idiota e hipócrita para dizer que não gostei, pelo contrário. No outro dia estava com dor nas pernas de tanta força que fiz. Acho que ela também, não sei, digo acho porque ninguém tocou no assunto, fomos embora naquele dia a noite.
E agora não sei o que faço. Se ligo. Se esqueço, se peço desculpas. Não gosto de mulher, tenho certeza disso. Mas gostaria de repetir aquela noite, só aquela noite, que sei não vai se repetir mais.
Só comigo mesmo para acontecer essas coisas.
O pior é a minha terapeuta que não volta de férias.

Tchau Joinville (Feliz ano novo)