Para o Tiozinho que pega o Centro/Tupy das 07:02

Seguinte seu filho da puta, vá se esfregar na sua mãe seu filho de uma égua.
Vá tomar no seu cú. Vá ser currado por trinta homens. Vá para o inferno. Morra queimado.
Poucas vezes na vida pensei em ser homem. Poucas mesmo. Adoro ser mulher.
Queria ser homem somente em três situações.

1) Quando algum babaca ligasse a merda do som da bosta do seu carro, tão alto como se todos fossem obrigados a escutar aquelas músicas estúpidas. Funk, pagode, aquelas músicas eletrônicas todas iguais. Bem então eu chegaria no meio dos idiotas (eles só andam em bandos) e diria: Baixem essa merda que eu não sou obrigada a escutar.

2) Quando eu sentasse em algum lugar para tomar um café, ou até uma cerveja e algum idiota sentasse na minha mesa com o pensamento fixo de que mulher que sai sozinha é puta. Então eu diria; Sai daqui seu merda antes que eu te arrebente a cara de porrada seu filho da puta. Mas não, ainda por cima tenho que ser educada porque o imbecil pode ser maluco, em alguns casos preciso ir embora tal é a idéia fixa do cara.

e por último

3) Queria ser homem para dar uma joelhada no saco do tiozinho que vive pensando que eu adoro que ele venha esfregar aquele pinto mucho na minha bunda. Todos os dias pela manhã é a mesma coisa. Já até desci do ônibus, já olhei de cara feia, já troquei de lugar, quando dá para se mecher, mas não adianta. O tanço pensa que eu estou gostando, é mole? Queria na verdade pegar a cabeça dele e bater na parede até arrebentar.

Ufaa, estou melhor agora, bem que eu disse que esse blog é minha terapia.

Faz tempo que não venho aqui, vi que tem umas pessoas que escreveram, vi até que tem um cara que indica meu blog. Fiquei tão feliz.
Novidades: Estou namorando, mas ainda não gozei, vamos tentando.

Tchau Joinville

Universidade e universitários

Na última sexta-feira eu e uma amiga fomos lá na UDESC e na UNIVILLE conhecer os cursos que eles oferecem, se tem bolsa, quanto custa (no caso da Univile), qual o horário e tudo mais.
Estudei em uma excelente escola lá na minha cidade, iria fazer faculdade, mas daí casei e isso ficou no esquecimento. Como estou tentando fazer várias coisas que deixei para trás devido ao canalha que me enchia de porrada e depois chorava pedindo desculpas, fui com essa amiga até lá ver no que que dava. Quem sabe não é mesmo?

Bom, depois fomos até o barzinho que fica na frente tomar uma cerveja já que era sexta-feira.

Foi aí que minhas surpresas começaram:

Primeiro com os carros de som. Não, não havia carnaval por lá, mas alguns caras que pensavam que o som dos seus carros era aquilo que todos gostariam de escutar, ficavam parecendo macaquinhos, bebendo, olhando para os lados, falando alto e mexendo com qualquer mulher que passasse. Foi uma decepção, pensei que iria sentar no bar e bater um papo legal com universitários cheios de conhecimento, com vontade de falar sobre qualquer assunto. Mas para conversar tinha que berrar.

Bom, depois acabamos recebendo dois estudantes em nossa mesa, eram até bonitinhos, só que só falavam bobagem. Seus assuntos giravam entre futebol e carro, com breves entradas na programação da televisão, dentre elas a maldita Fazenda (uma vez assisti um filme chamado Colheita Maldita, onde morria uma galera, seria bom se isso acontecesse lá com aquele programa). Pois bem, pasmem agora, os caras estudam Direito, é isso aí, além de estúpidos, machistas e burros, eles imaginavam que aquilo lhes dava algum ar de superioridade sobre os meros mortais que nem eu e minha amiga que trabalhamos em fábricas. Para vocês terem uma idéia, um dos caras levava uma gravata na bolsa. Acredita? Ele não trabalha, não se formou ainda, não fez o concurso lá que eles tem que fazer... mas já anda com uma gravata.

No final, depois de não agüentar a conversa dos caras nos retiramos, não sem ter que insistir com os babacas que não queríamos carona.

A surpresa maior viria em seguida, quando caminhávamos em direção ao ponto do ônibus eu olhei para trás e vi o chão imundo, copos de plástico jogados no chão para tudo que é lado. Fiquei me perguntando: O que é que ensinam na tal de universidade então? Alguém pode até dizer que isso não se aprende ali, mas se não for ali vai ser aonde? Um dos caras idiotas até que falou um coisa que ainda não sei se é inteligente, mas fiquei pensando: ele disse que estava torcendo para a gente entrar na universidade, e blá, blá, blá e que eu e minha amiga faríamos parte de uma elite no Brasil.

Fiquei pensando, que merda de elite que não sabe nem jogar um copo de plástico na lata de lixo.

Sobre diversidade

Olá Joinville.

Minha tia, que já comentei aqui antes, vivia falando sobre esse negócio de diversidade cultural, tudo era diversidade, ela e os professores da universidade que andavam na casa dela.

Eu tava pensando aqui, que eu acho esse negócio uma bobagem, se eu fosse socióloga ou alguma coisa assim criava o termo “misturidade” cultural. É que esse lance de diversidade me parece que ficam os diversos lá e os outros diversos aqui, cada um no seu canto. Tipo assim:
- Olha, você aí que é gay, ou negro, ou paranaense, pode existir tá bom? Só que não se misture comigo.

Sei lá, fiquei pensando nisso porque sábado fiz plantão lá na fábrica e só se falava na parada gay.
Aqueles babacas, metendo o pau na passeata, dizendo que era uma pouca vergonha e não sei o que mais, outro idiota que é todo de Jesus e vai com a família na igreja ficou indignado:
- Como é que meus filhos vão ver isso? É uma falta de moral.
Bom, daí como eu tava com sono, mestruada, e com um mal humor do cão, falei para o filho da puta:
- Falta de moral é você vir me cantar na saída do expediente, quando diz que é religioso, e que lê a bíblia, e que é todo família e coisa e tal...
Deu aquele silêncio entre os homens. Só as mulheres começaram a rir, mostrando que também levaram cantadas.

Acho que eu também vou fazer uma parada aqui em Joinville: Parada pelo reconhecimento e respeito aos paranaenses.
Pois é, não tenho nada contra os gays, bem pelo contrário, mas além deles, aqui em Joinville deveria ter parada pelos paranaenses, nordestinos, negros, pobres, peões de fábrica, mulheres e por aí vai.

E não venha dizer que não sabe viu fofo? Aqui na fábrica negro não ganha cargo de gerência ou supervisão, se aposenta na máquina, por melhor que seja. Mulher na fábrica ou é sapatão ou quer dar para todos os caras do setor. Nordestino é vagabundo, aliás é por isso que agente escuta o pessoal dizendo que nós temos que se separar do resto do Brasil
– Nós aqui do sul é que geramos a riqueza do Brasil.
Pois é fofo, eu tenho que escutar isso lembrando da minha maravilhosa vózinha nordestina sem mandar o cara tomar no cú porque ele é gerente de turno.

Bom, que venham outras paradas então não é?

Para primeira semente já tá muito bom.

Tchau Joinville.

Ah, continuo sem computador, mas hoje é minha folga e estou em uma lan, depois vou em algum sebo comprar um livro, locar um filme e me entupir de pipoca. Que se foda a celulite.

Olá Joinville (Sobre Orgasmos)

Como podem notar estive afastada, como eu disse na primeira postagem, esse blog era para me tirar as neuras, pois não podia pagar um psicólogo.
Acontece que eu paguei, não um psicólogo, mas uma psicóloga. Foi maravilhoso. E adivinhem? Depois de três meses de terapia consegui ter um orgasmo. É gente, podem até rir, mas eu consegui. Leia sobre isso aqui.
Ainda não tive com um cara. A psicóloga ainda não tirou minhas neuroses com homens, depois de ter apanhado durante tanto tempo do ex-marido-mala-sem-alça-filho-da-puta, tem que dar tempo ao tempo.
Contando rapidamente minha saga com orgasmos, devo confessar que consegui me masturbando, o que não tira o brilho da coisa disse a doutora. Estou me conhecendo: diz ela.
Só estou com outro problema, ando me masturbando agora a torto e a direito, até no banheiro da fábrica já me toquei.
Eu, a feministazinha de merda (que apanhava do marido) que era toda cheia de doideiras, que vivia com aquele papinho de que iria me sentir vazia e blá, blá, blá. Agora conto para todo mundo.
Pior ainda é que acho que estou mais doida ainda, fico me imaginando com os caras mais esquisitos, caras da fábrica que eu não sairia nem por nada desse mundo, uns caras que odeio, outras que são feios pra caralho. Nem contei para a psicóloga ainda, ela pensa que eu me masturbo me imaginando com cantores de música sertaneja ou afins. Bem, ela que se dane.
Bom, essas são as novas notícias. Qualquer dia que tiver mais tempo conto mais, estou sem computador também, o que é uma merda, hoje estou de folga e resolvi dar uma tecladinha.

Tchau Joinville.

Os monstros de cada um...

Estava cagando ontem pela manhã bem tranqüila, quando de repente o bicho voou em minha direção.
- Socorro, aí, aí, aí! Saí filha da puta, saí desgraça.
Lá estava eu com a bunda toda cagada e as calcinhas pelo meio das pernas correndo pela casa. Era para ser um dia tranquilo.
Lia um gibi do Chico Bento enquanto esperava que a merda caísse, quando ao invés dela, cai aquela bruxa filha de uma égua nos meus cabelos.
Bruxa no sentido literal da palavra, ou mariposa, como queiram, aquela borboleta gigante com as asas marrons enormes, que parecem dois olhos mortais te observando.
Que caralho aquele bicho foi estragar o meu dia? De onde surgiu aquele monstro? O que eu fiz para merecer isso? Ainda por cima estava atrasada para o serviço. Não pude tomar café. Bruxa filha da puta.
Mas com isso lembrei-me de monstros piores. De outras situações piores da minha vida. Onde os monstros estavam prestes a me atacar. Nem vou contar das baratas voadoras que me fizeram voar do primeiro andar da casa de uma amiga. Me esborrachei, trinquei o pulso e perdi as férias.
Porém o pior foi na casa de um tio, irmão do meu pai. Ele morava em uma cidadezinha de praia no Paraná, uma casa bem legal, toda alternativa e cheia de detalhezinhos interessantes, bibelôs, esculturas, pinturas, tudo muito bem transado. Eu até gostava daquele tio, talvez por ele ser gay e eu não ter que me preocupar se ele iria me sacanear uma hora ou outra.
- Ela dorme lá no ateliê. Ela gostou de lá, não é Galega?
- Mas não é perigoso? - Perguntou meu pai.
- Não, não se preocupe.
Eu era nova, muito doida, a pior aluna da escola e famosa na pequena cidade do interior pelos distúrbios que causava a paz daquele cú de mundo. Após a discussão meu pai acabou aceitando, meu tio o tranqüilizou dizendo que não havia muito que fazer naquela época na cidade, se eu fugisse (como normalmente fazia) não iria encontrar nada, além de ter que andar quase dois quilômetros entre matos e bambuzais para achar alguma luz acesa.
Aconchegada e instalada no ateliê, verifiquei se estava todo mundo dormindo, liguei o som, abri uma cerveja, e preparei a primeira carreira de pó para passar a noite, iria ler alguma coisa e ficar viajando sozinha naquele fim de mundo.
O ateliê era nos fundos da casa, cheio de coisas para fuçar. Livros, revistas, argila, tintas e coisas afins, que não tinham nada haver comigo, mas era legal estar lá. Era bem afastado da casa da frente e dava para escutar som bem alto.
Como disse antes eu era muito doidinha. Levei uma grama de coca escondida na bolsa, disse para o amigo que me arranjou que era para passar o final de semana na casa do tio. Ele disse:
- Cuidado galega, que essa aí é quase pura heim?
- Ih meu, relaxe, tu sabe que comigo a coisa é tranqüila.
Foi a pior cagada que fiz na vida (uma das). O bagulho bateu errado. Fiquei na maior paranóia da minha vida. Dava para escutar uma agulha caindo à distância, quem dirá o barulho do bambuzal me infernizando.
Bom, para completar faltou luz na porra da cidade. Fiquei lá parada, na maior nóia, com o queixo completamente descentralizado do resto do rosto, quase comendo a orelha.
De repente o barulho infernal, os monstros haviam chegado para me infernizar: Morcegos.
Centenas deles também gostavam do ateliê, e decidiram aquele dia sair do telhado e entrar na casa, talvez gostassem de um teco também, até hoje penso nisso.
É, não foi uma noite muito agradável, passei a noite escondida atrás de uma cortina, com o pavor oscilando entre os morcegos e a chegada de meu pai me encontrando no escuro, de pé, atrás de uma cortina e com um prato na mão. Não sei quanto tempo durou, mas me pareceu um século inteiro.

Agora estava eu ali, com a bunda toda suja pensando como iria voltar para o banheiro com aquele monstrengo lá dentro. Trancada não atrás das cortinas, mas da porta do banheiro, tendo como prisão não a mente, mas o resto da casa.

Já pensei algumas vezes o quanto levei sorte por ter nascido na época que nasci. No meu tempo o tal do crack estava no início, ninguém conhecia muito, ainda mais no interior.
Maluca do jeito que era teria caído nessa furada com certeza. Já se vão mais de nove anos que estou clean. Mas talvez a história não teria sido essa se fosse crack que estivesse usando atrás da cortina.
Tenho acompanhado um menino que perambula pelas ruas do bairro, deve ter uns quinze anos, não mais do que isso, vive na rua, não sei se mora na rua, mas anda sempre na área.
Quando cheguei por aqui ele era todo prestativo, andava sempre sorrindo, todo arrumadinho, conhecia o pessoal da rua, tinha o cabelo todo encaracolado jogado nos ombros. Mas pelo meu faro sabia que ele era como eu, uma antena parabólica que só atrai problemas.
Me ofereceu um baseado certa vez quando saí do ônibus, me chamava de loira.
- Ô loira, quer uma ajuda aí?
Com o tempo vi que trocou o tênis por chinelo, depois de um tempo só andava sem camisa, depois pedindo, depois descalço...
Ontem vi ele andando pela rua e como eu pela manhã, também estava todo cagado. Só que seu monstro é outro: o crack. Os cabelos uma paçoca, sem brilho nos olhos, nervoso, sem amor próprio, sem amor por nada, sem sentido...
Parei e tentei conversar com ele, mesmo sabendo que não estaria me escutando, na mente somente o som do corpo urrando, pedindo mais uma pedra.
- Só estou esperando a morte loira. Só a morte... Me arranja um real?

Sensação total de impotência.

Que merda, pensei comigo mesma, que dia cagado.

Conto surreal I

Sentado na beira da cama observava seu filho dormir. Olhava cheio de compaixão e amor, pensava o que não faria mais por ele. Até que aquele menino, que era fraco e cheio de moléstias desde quando era um bebê, pudesse caminhar pela vida com seu próprio esforço.
Estava cansado, iria olhá-lo só mais um pouquinho e em seguida iria se deitar:
- Se eu não tiver nenhum problema com minha consciência esta noite, acho que não terei mais.
Estava com medo de dormir, medo de dormir em paz, se isso acontecesse, não teria mais limites para a loucura que havia iniciado. Mas também tinha medo de não conseguir dormir mais, nunca mais, o que fizera era insano, seu pai se envergonharia dele.
Era homem direito, seu pai lhe ensinara a ser honesto, o pai, que era professor, dedicara a vida para educação, conseguindo criar com o salário minguado seis filhos, todos foram educados na escola mas também em casa, onde o velho lhes dava aulas na mesa sobre a vida, as utopias, o Anarquismo, o amor e a necessidade do homem buscar nele mesmo suas potencialidades humanas transformadoras.
Agora estava ali, com o fantasma do pai ao lado, sussurrando:
- Você matou um médico.
Adormeceu junto ao corpo quente do filho, aninhou-se no seu cobertor como se procurasse compreensão e perdão pelo seu ato alucinado.

Acordou pela manhã muito bem disposto, dormira incrivelmente bem, e por mais incrível que pudesse parecer estava com a consciência em paz, tal qual um criança, trazia no semblante a paz dos loucos. Começou a rir sozinho, um sorriso de ironia, de lobo com um naco de carne. Recordava do que havia feito.
Levara o filho ao Hospital Regional. Falou com três médicos durante uma madrugada inteira, cada um deu um diagnóstico diferente, desesperado corria de um lado para o outro rogando ajuda a todos que tinham qualquer peça de cor branca na indumentária. Sentia-se cada vez mais inútil, o filho ardendo em febre, quase desmaiando, desesperado chorou, chorou de raiva, de impotência, de indignação, lembrou do pai professor, que dera aulas de OSPB nos tempos da ditadura para não ser preso...
- Tudo pelos meus filhos. Tudo pelos meus filhos. – Era o que o velho sempre repetia.
Colocaram um soro no menino, espetaram a veia errada, ou nenhuma veia, o braço começou a inchar:
- Enfermeira, está errado, tem alguma coisa errada.
Pedia desesperado que alguém olhasse o menino.
- É assim mesmo... é assim mesmo.
Dizia uma de passagem.
- Não se preocupe, vai ficar bom.
Dizia outra.
E o braço inchando.
Chamou um médico, o mesmo que dera o diagnóstico absurdo de falta de alimentação correta. Ora, ora, podia faltar qualquer coisa dentro da sua casa, menos amor e alimentação correta, pensava, sempre tiveram fartura de comida. Mesmo que fosse para a casa de um simples mecânico. Não possuíam supérfluos, mas comida era farta. Na pressa de sair de casa com o menino, esqueceu de calçar seus pés. O médico olhou direto para seus pés descalços quando entrou naquela sala que fedia a remédios. Foi tudo que o médico olhou, seus pés, sequer olhou nos seus olhos desesperados.
- A boca desse menino está até com cheiro de fezes - Disse o clínico.
Sentiu-se morrer, quem era aquele desgraçado para falar aquilo?
Agora estavam ali, frente a frente novamente, o miserável dizendo que seu turno estava acabando, o braço ia inchar um pouco, mas ele ia encontrar uma enfermeira.
- Pôxa doutor, é só tirar e a agulha e colocar na veia novamente, não precisa muito, é um minuto da sua vida.
- Não dá cara, tô saindo.
O menino quase perdeu o braço...

No outro dia foi até o hospital, no mesmo horário. Esperou o médico e seguiu-o até o estacionamento. Parou na sua frente e disse:
- Você tem um tempo agora?
- Quem é você?
- Um pai desesperado.
Bateu com o taco de “jogar taco” do filho bem no meio da cara do médico, voou sangue e dentes pra todo lado. Bateu mais e mais, nas costelas, nos joelhos e na cara, desfigurou a cara do cara, foram exatas seis pauladas. O que era um acesso de fúria virou uma tragédia, o cara-médico, já havia morrido na primeira tacada.

Pela sensação de paz decidiu que aquilo deveria ir mais longe. Começou a se sentir um Charles Bronson barrigudo, ou um super-herói de histórias em quadrinhos dos Estados Unidos, talvez um Batman de GothamVille? Era preciso procurar os responsáveis por aquilo, o médico era o final da história, uma ponta desse novelo sujo.
Com suas grandes habilidades de mecânico das Ferramentas Gerais, passou a construir armas. Armas! Lembrava que seu pai nunca havia permitido nem brinquedos que lembrassem armas, e agora ali estava ele, fazendo armas caseiras para matar o secretário da saúde.
Matou o secretário e o diretor do hospital, mas não ficou satisfeito, aquilo ia mais fundo, e mais fundo ele entrava naquele furacão sem volta, naquela roda viva da violência que lhe dava um prazer mórbido.
Não satisfeito começou a ler os jornais e ver notícias na televisão, buscava ali as suas vinganças, para cada notícia dos jornais, buscava outra versão dos fatos em blogs, e acabava se deparando com outras “verdades”.
Foi assim que matou a sangue frio João da Silva Tebaldo, quando soube que este recebeu um gordo cheque da única empresa de ônibus da cidade.
- Você recebeu ou não recebeu? - Perguntava com o cano enfiado na boca do João da Silva.
- Não recebi nada, eu juro.
- Se você disser a verdade eu te deixo ir.
- Eu recebi. Mas...
- Não tem “mas”, seu filho da puta.
Espalhou os miolos do cara pela garagem onde o infeliz guardava seu carro.
Foi assim que matou alguns vereadores da câmara de GothamVille, João da Silva Marcusso, condenado por corrupção duas vezes pela justiça comum, se cagou todo antes da condenação final e de beijar a morte. Os outros assinaram suas sentenças quando decidiram se auto-aumentar. Sobraram dois, sendo que um deles, que é um merda e não sabe se posicionar, João da Silva Marquinzinho, levou uma surra bem dada para deixar de ser vendido. O outro que sobrou apanhou também, para mostrar que ninguém estava a salvo de sua “missão” e que o “Matador” não tinha partido. Os jornais já falavam no “Matador” da cidade, a cidade da ordem, matou até Maria da Silva Marinete, a lista não era só de homens.
O inventário dos corrompidos e gananciosos ia aumentando, faltava tempo para trabalhar, mas estava de bem com a vida, só o fantasma do pai lhe incomodava ainda: “A História não dá pulos meu filho”.
Empolgado com sua “justiça” explodiu o Shopping Mullersilva e toda a rede Angelonisilva da cidade, bem como todas as empresas que escravizavam os seus trabalhadores aos domingos, bastava funcionar no domingo para estar na sua lista negra, e ir pelos ares. Ninguém estava seguro, todos andavam desconfiados pelos ruas. Todos poderiam ser culpados.
Explodiu as revendas da Vivo, Tim, Claro, Oi e qualquer outra que deixasse alguém esperando no telefone mais do que um minuto, não deixando celular sobre celular.
Explodiu o terminal de ônibus, causando o caos na ordeira GhotamVille.
Na sua lista ainda faltavam algumas pessoas. Donos de empresa ônibus, alguns empresários, alguns delegados e mais alguns policiais também foram se indo na direção do inferno.
Uma dos principais traficantes da cidade cheiraram a última carreira. Traficantes de crack morreram com o pinto enfiado na boca.
Um imbecil que se dizia jornalista, João da Silva Toninho Chuvas, gritou feito um porco enquanto ele lhe arrancava o couro. Escalpelou um novo vereador eleito depois da morte dos outros, um tal de João da Silva Sandro Silva, que gritava bobagens sobre racismo, enquanto ele lhe dizia que aquilo era para ele aprender a ter dignidade e no mínimo manter a palavra.
Novamente o fantasma do pai: “A palavra de um homem é todo o seu tesouro meu filho”.
Até que um dia aquilo aconteceu, se preparava para matar João da Silva Henriquieto da Silveira. Já estava com o dedo no gatilho. Olhava nos olhos do desgraçado, foi quando o cara começou a rir, ria alto, mais alto e mais alto, de repente se pôs a gargalhar, e enquanto ria, seus olhos começaram a ficar vermelhos, chifres iam nascendo na cabeça careca reluzente, um rabo pontudo também começou a brotar do seu cóccix, e o cara falou, “Você, você?! Huahuhua. Você é um merda. Quem é você? Não passa de um réles professor.” E gargalhava exalando cheiro de whisky pelos poros.

Acordou todo suando e gritando, “o demônio, o demônio”.
Olhou para o lado e viu o filho dormindo, ele não era mecânico.
Lembrou-se que era um simples professor de Filosofia da rede pública. Detestava a violência. Ensinava na sala de aula que é preciso união, é preciso reivindicar, fazer manifestações. Incentivava aos alunos abrirem grêmios estudantis, ensinava-os a pensar, ensinava a entenderem seus direitos e lutar por eles, plantava e regava utopias nas floreiras dos seus corações.

- Caralho... que sonho maluco.
Levantou-se assustado e foi até a varanda, acendeu um Marlboro e pensou:
- É melhor parar de tomar essa porra de Nova Schin.
*****
Tô desmemoriada para escrever sobre minha vida.
Seguem então essas coisas surreais que povoam minha cabeça.
Tchau Joinville.