Olá Joinville (Sobre ser migrante - 3)

Assisti ha alguns dias a peça Migrantes.

Achei uma maravilha, chorei tanto que nem sei, quando acabou parecia que eu tinha prendido o fôlego durante toda uma era.
Quando cheguei em Joinville, pensei na vida nova que teria, um pouco mais trabalhosa que minha vidinha de esposa-de-empresário-de-cidadezinha-do-interior-do-Paraná, mas muito mais livre.

Maravilha, comecei a ler (livros), ver filmes, ir ao cinema e fui pela primeira vez ao teatro.

A sensação é de tirar o fôlego, pensar o quanto aquelas pessoas ensaiaram, o medo que deve dar em errar. Porque ali não tem "corta, vamos gravar novamente". Coisa louca, e pensar que as pessoas trocaram essa maravilha por uma caixa na sala de casa.

Foi depois que vi a peça que comecei a juntar as peças e me dei conta dos cochichos (é assim que se escreve?) na fábrica.
Os idiotas sabem que sou um pouco (um pouco???) surda, mas não sabem que eu sei ler lábios, engraçado, são peões de fábrica igual a mim, e no entanto ficam fazendo piadinhas... Até então eu não havia entendido o que é ser "paranaense" em Joinville. Agora eu sei.

Bem, fodam-se eles também. Bando de babaca, querem mudanças tão grandes que não se dão conta que é preciso começar com a pessoa que está ao lado e com as próprias atitudes. Acabam fazendo igual ao gerente do setor, que faz igual ao diretor, que faz igual ao dono da fábrica... Que faz igual ao seus avós...

Mas não estou me importando, a vida está sendo muito boa. A sensação de liberdade é demais, estar no teatro e ver outro ser humano fazer aquilo foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida.

Voltei caminhando até o terminal do centro, fui bem devagar, o tempo de uns quatro Marlboros, é tão bom caminhar pela cidade de noite, uma sensação tão gostosa, acho que é por esta sensação que as pessoas lutam tanto quando falam de liberdade.

2 comentários:

Marcelo disse...

Olá!

Sou joinvilense e acabei de ler teus últimos posts, e achei muito interessante teus relatos.
Tu és uma mulher muito corajosa por ter feito o que fizeste, sinceramente, de uma virtude pouco vista. Escreves bem também, parabéns... meu blog fala sobre questões sociais e políticas, vou adicionar o link. Sobre a peça Migrantes, eu tenho um texto no meu blog sobre a rimeira temporada no ano passado, enfim, algumas análises sobre a peça e o teatro em geral, pois também estou na ficha técnica deste por ter participado na fase inicial de pesquisa para a montagemda peça. se quiseres saber um pouco mais sobre Joinville dê um toque.

Ps: A hipocrisia nessa cidade vai além de joinvilenses natos (que nasceram aqui) é um problema que atingiu a população, e agora até os próprios migrantes excluem migrantes, essa cidade prolifera o racismo e discriminação.

Anônimo disse...

Joinville é hipócrita.

Se diz uma cidade conservadora, mas tem centenas de zonas, que todo mundo conhece. (deve ser algo do tipo: em casa não pode, mas na rua...)

Também sou paranaense, já ouvi muito coisas como "esses paranaenses vêm pra cá roubar nossos empregos". Aos joinvillenses ignorantes (alguns se salvam) só digo o seguinte: se voces fossem qualificados não perderiam o emprego para paranaenses.